Os Arcanum Arcanorum, dos quais fizeram
correr muita tinta em vão, nestes últimos anos, gerando com isso um mito
bastante inútil, constituem os quatros(as vezes três) graus terminais dos
legítimos ritos maçônicos egípcios , graus particulares e somente
presentes na Escala de Nápoles (do 87o ao 90o). Os AA estão presentes
igualmente no seio de algumas organizações pitagóricas, rosacrucianas, e
em restritos colégios hermetistas.
Dentro do ponto de vista maçônico, convém
distinguir o sistema dos irmãos Bédarride baseado na Cabala do Regime de
Nápoles, que constituía o verdadeiro sistema dos AA. Citemos Ragon que nos
fala destes quatros graus: "Eles formam todo o sistema filosófico do
verdadeiro rito de Misraïm, que satisfaz a todo maçom instruído, haja
visto que os mesmos graus na maçonaria comum, são uma zombaria nascida da
ignorância..."
Os AA são definidos por Jean Pierre
Giudicelli de Cresac Bachalerie, em seu livro "De la Rose Rouge a la Croix
d’Or" , editora Axis Mundi (Paris-1988), na pág. 67: " Este ensinamento
concerne a uma Teurgia, é a entrada em relação com os eons-guias que devem
tomar a direção para fazer compreender o processo iniciático, é também uma
via alquímica muito fechada, que é um Nei Dan, isto é, uma via
interna."
Os AA maçônicos parecem ser em realidade,
mais que os graus terminais da maçonaria egípcia, é a introdução a um
outro sistema. Os AA constituem de fato uma qualificação para outras
ordens mais internas ligados as correntes osirianas ou pitagórica ou ainda
a correntes dos Antigos Rosacruzes, como a Ordem dos Rosacruzes de Ouro do
antigo sistema, Ordem dos Irmãos Iniciados e outras que permanecem
desconhecidas, escapando assim à pesquisa histórica e sobretudo aos
problemas humanos. J.P.G. de Cresac Bachelerie, faz referência à Brunelli
em seu livro, já citado, na pág. 79, que os AA constituem de fato a
introdução para outras ordens: "Como indicou Brunelli em seus formidáveis
trabalhos sobre os ritos de Misraïm e Memphis, outras Ordens sucedem os
AA". Saindo dos aspectos maçônicos, descobrimos quatro ou cinco outras
ordens (Grande Ordem Egípcia, Ritos Egípcios assim como outras três que
não podemos mencionar). "cada vez mais, certas organizações tradicionais
não utilizam o nome AA", detendo a totalidade ou parte de conjunto
teúrgico dos AA.
Os sistemas completos dos AA ,cuja maçonaria
egípcia detêm uma parte, comporta de fato três disciplinas:
Teurgia e Cabala Angélica: com notadamente as
invocações dos 4, dos 7, e a grande operação dos 72; Alquimias
metálicas: entre diferentes vias, os documentos em nossa posse parecem dar
prioridade à via do Antimônio, mas outras vias, notadamente a via da
Salamandra ou a via do Cinábrio parece constituir um elemento central do
sistema, porque depende por sua vez da via externa e da via interna, seja
por razões pedagógicas, seja por razões operativas. Alquimias internas:
segundo as correntes internas, as vias práticas diferem, menos
tecnicamente que pelos detalhes filosóficos e místicos respectivos, as
vezes totalmente opostos. As alquimias internas, como alhures as alquimias
metálicas, encontram sua origem no Oriente e, mais particularmente,
segundo Alain Daniélou, no Shivaísmo. Independente de onde sejam, já fazem
parte da herança tradicional ocidental pelo menos há dois milênios, como
atesta certos papiros egípcios e gnósticos ( pensamos notadamente nos
importantes papiros Bruce). Em relação a alquimia interna, falamos de vias
da imortalidade ou ainda de vias reais.
De modo geral, toda via real comporta
simultaneamente uma magia natural (segundo Giordano Bruno, a magia é a
arte da memória e manipulação dos fantasmas, é o domínio daquilo que
certos teólogos denominam "o encantamento do mundo", uma teurgia e uma
alquimia, vetor de uma via de imortalidade.
A questão das imortalidades é difícil de
tratar porque não pode se inserir com sucesso em um modelo de mundo
aristotélico, motivo pelo qual não é raro que a busca de uma
sobre-humanidade, de uma mais-que-humanidade ou de uma não-humanidade
conduza infelizmente à inumanidade. Mais ainda, podemos muito bem ter uma
excelente compreensão intelectual de modelos não-aristotélicos, como o
são, o Taoísmo, e o sistema de Gurdjieff, " sem haver Invertido os
castiçais", para retomar a fórmula de Meyrinck no Rosto Verde. A
sobre-humanidade poderia ser simbolizada por Hércules, indicando assim a
via mágica do Herói, predispondo à mais-que-humanidade, simbolizada pelo
Cristo, ou ainda por Orfeu, ou à não-humanidade, esta simbolizada por
Osíris ou por Dionísio. Nós poderíamos encontrar outras referências, tanto
no Ocidente como nas tradições orientais, para tentar fazer apreender
aquilo que é efetivamente uma diferença de orientação. O Ser não é
necessariamente orientado em direção a um pólo único, o que explica vias
reais diferentes, não conduzindo, portanto, ao mesmo
Lugar-Estado...
Os AA do Regime de Nápoles introduzem a uma
alquimia interna de tradição egípcia em duas fases, uma "isíaca", a outra
"osiriana". Naturalmente é neste último aspecto das alquimias internas que
encontramos os aspectos mais especificamente osirianos dos AA . É provável
que na Idade Média e na Renascença, este sistema fosse exclusivamente
caldeu-egípcio, e seria pouco a pouco, e principalmente em seus aspectos
mágicos e teúrgicos, que o sistema teria sofrido em certas estruturas
tradicionais uma "cristianização" ou uma "hebraização". Encontramos as
vezes com relação à este sujeito a expressão "cristianismo
caldeu".
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