Prof. Dr. Edimilson Ramos Migowski de Carvalho
MD, PhD
(Professor de Infectologia Pediátrica da UFRJ e vice-presidente da Sociedade de
Pediatria do Estado do Rio de Janeiro)
O vírus do Dengue é um Flavivirus, portanto do mesmo gênero do vírus da
hepatite C e da febre amarela, que também são hepatotrópicos. Assim, a hepatite
não pode ser considerada uma complicação do dengue, pois faz parte da história
natural da doença.
Aspectos histológicos de hepatite viral têm sido demonstrados
em biópsias hepáticas de pacientes com dengue, como degeneração dos hepatócitos,
necrose centrolobular, degeneração gordurosa, hiperplasia de células de Kupffer,
infiltração de monócitos e alterações muitas vezes de grande monta a exemplo do
que ocorre na febre amarela.
Diversos estudos demonstram que 80 a 100% dos pacientes com dengue, mesmo sem
hepatomegalia, apresentam algum grau de envolvimento hepático com elevação de
transaminases (TGO e TGP).
O tratamento da Dengue é sintomático, isto é, são utilizados medicamentos apenas
para amenizar os sinais e sintomas, e não para combater o vírus. O próprio
sistema imunológico acaba com o vírus em alguns dias. Mesmo assim, deve-se fazer
repouso, não se agasalhar excessivamente e beber muito líquido para evitar a
desidratação proporcionada pela febre e evitar sintomas mais desagradáveis.
No caso da forma hemorrágica, é recomendada a aplicação de soro e plasma. Em
alguns casos mais graves pode haver a necessidade de transfusão de sangue.
Embora não tenha qualquer estudo, é o paracetamol (Dôrico(R), Tylenol(R) etc...) o
fármaco mais utilizado para tratamento da dor e febre no paciente com dengue.
Vale ressaltar que o vírus do dengue causa, em praticamente 100% das pessoas
infectadas, um quadro de hepatite, e o paracetamol é muito tóxico para esse
órgão e poderá agravar o problema.
O ácido acetil-salicílico (AAS(R), Aspirina(R), Melhoral(R), Doril(R) etc) é
contra-indicado, porque essa substância interfere nos mecanismos de coagulação e
pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas.
Baseado nos perfis do medicamento e da doença, os medicamentos que poderiam ser
utilizados com um pouco mais de segurança seriam a dipirona (Novalgina(R),
Dorflex(R), Anador(R) etc.) e o ibuprofeno (Dalsy(R), Alivium(R)). Mas sempre de
forma comedida e com orientação médica.
Na maioria das vezes, o doente se recupera em uma semana. A recuperação costuma
ser total, não deixando nenhum tipo de seqüela. É comum que ocorra durante
alguns dias uma sensação de cansaço, que desaparece completamente com o tempo,
geralmente em até quinze dias.
Paracetamol é uma substância que exige um esforço do fígado para metabolizá-la.
A diferença entre a dose terapêutica e a tóxica é muito pequena. Segundo a
Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos, um adulto saudável
deve ingerir, no máximo, quatro gramas de paracetamol por dia.
Para crianças, a
dose recomendada é de cem miligramas por quilo de peso. Mas o mais seguro é
consumir o mínimo possível. O excesso pode causar hepatite medicamentosa.
Hepatite tóxica mata rapidamente,adultos e crianças.
Ela pode ser a verdadeira causa de vários óbitos atribuídos ao dengue.*
Colaboração do amigo Prof. Dr.
Claudinê Paschoetto |